ROMENILSON REHEM E A ALQUIMIA DOS SABORES: QUANDO A QUÍMICA ENCONTRA A GASTRONOMIA

Na última entrevista da sessão “Protagonistas da Química” de 2025, apresentaremos um pouco da trajetória pessoal e profissional do químico e empresário do ramo gastronômico Romenilson Rehem. 

 

Com licenciatura e bacharelado em Química, ambas graduações pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Romenilson relata que passou a considerar a ideia de atuar na área, aos 16 anos, quando estava prestes a concluir o ginasial, hoje ensino fundamental.

 

Ele recorda que jogava no time juvenil de voleibol do Clube Baiano de Tênis, quando conheceu um jogador do time adulto que era engenheiro químico.  

 

“Era final dos anos 1960 e naquela época só ouvíamos falar em profissões como engenheiro civil, advogado ou médico. Esse engenheiro químico conversava bastante com os garotos sobre trabalho e futuro. Numa dessas conversas, ele me sugeriu fazer o curso técnico em Química, pois considerava uma área promissora”.

 

Romenilson se interessou e ingressou no curso técnico em Química da então Escola Técnica Federal da Bahia (ETFBA), que hoje é o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA).

 

“Acabei gostando e me identificando muito com o que eu aprendia no curso. Das disciplinas teóricas às aulas práticas no laboratório, tudo me agradava e mostrava um universo até então desconhecido por mim”.

 

Aquele químico que Romenilson se referiu anteriormente, era engenheiro chefe da empresa Pasquim, atual Companhia Química Metacril, que produz monômeros de acrilato e metacrilato de metila para a produção de acrílico.

 

Quando chegou ao último ano do curso técnico, em 1973, Remenilson procurou pelo engenheiro e começou a estagiar na empresa.

 

Pouco tempo depois, o jovem foi aprovado em uma seleção para trabalhar na regional da Bahia do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), na fiscalização da produção de bebidas alcoólicas.

 

Como seu trabalho no MAPA o tornou muito conhecido no setor, a Leão do Norte, que produz a famosa Jurubeba, o convidou para participar da implantação do seu laboratório, na Bahia. Ele já contabiliza 45 anos trabalhando na empresa onde, atualmente, responde pela responsabilidade técnica. 

 

A atuação no segmento de bebidas levou Romenilson a viajar diversas vezes para o Rio Grande do Sul, onde se interessou pelo universo dos vinhos. Durante esses compromissos ele conheceu diversos produtores da bebida que procuravam por um representante na Bahia.

 

Ele então montou um escritório, no bairro do Caminho das Árvores, e entrou para o ramo de representação e distribuição de vinhos produzidos no Rio Grande do Sul e alguns importados.

 

Entusiasta do consumo da bebida, não demorou para ele inaugurar sua própria loja de vinhos. O rumo para empreender no setor de restaurantes começava a ser traçado naquele período.

 

“Como o vinho está diretamente ligado à gastronomia, os clientes começaram a pedir comidas que harmonizassem com a bebida. Então comecei a oferecer, em alguns dias da semana, pratos como bacalhau ou filés com molhos diferenciados. Daí a montar meu primeiro restaurante, foi um pulo”.

 

Em 2008 ele inaugurou o Mercato Di Vino, na Pituba, que ficou conhecido pela qualidade da comida. No entanto, Romenilson administrava o restaurante sozinho e não tinha experiência como empreendedor. Além disso, sua atividade profissional, na Leão do Norte, não permitia que ele se dedicasse ao negócio como gostaria.

 

Em 2018, após 10 anos em atividade, ele vendeu o estabelecimento. Apesar disso, ele se orgulha de ter contribuído para deixar um legado. “Desde aquela época eu sou reconhecido como um dos primeiros a incentivar o consumo e ajudar a formar um público apreciador de vinhos, em Salvador”.

 

Antes de vender o Mercato Di Vino, desde 2014, ele era sócio no Catiguria Restô Bar, localizado no Mercado do Rio Vermelho. Segundo Romenilson, administrar o Catiguria é mais fácil, pois ele não cumpre essa missão sozinho. Além disso, depois daquela primeira experiência, ele fez cursos para entender melhor sobre o segmento.  

 

Segundo o químico e empresário, o carro chefe do Catiguria é o malassado, que é uma receita de família. “A nossa chefe de cozinha, que já trabalha comigo há muitos anos, recebeu todas a orientações de minha mãe sobre o preparo do nosso malassado. O prato é um sucesso e os clientes elogiam muito”. 

 

De acordo com Romenilson, as similaridades entre o laboratório e a cozinha são enormes. Essas semelhanças, informa, vão desde o momento de selecionar os ingredientes e acrescentar os temperos, até o tempo exato no fogo para obter o resultado esperado.

 

Sendo assim, ele também veste o avental e utiliza os seus conhecimentos profissionais para criar pratos, alguns até já entraram para o cardápio do Catiguria.

 

Um exemplo disso é um filé criado por ele, com molho bem escuro, que a clientela aprecia demais.

 

“Fui fazendo testes com ingredientes variados para dar ao molho a cor e o sabor que eu desejava. Nesse caso específico, utilizo vinho tinto e molho shoyu, o restante da receita é segredo, tem que vir até aqui provar”, conclui.