PROJETO DE ESTUDANTES UTILIZA A BORRA DO CAFÉ COMO MATÉRIA-PRIMA PARA PRODUZIR EMBALAGENS DESCARTÁVEIS
Mais de 800 estudantes de escolas da rede estadual participaram, no início de agosto, da última etapa territorial do Encontro Estudantil 2025, realizada no Parque de Exposições da Bahia, em Salvador.
Promovido pela Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC), durante dois dias o evento apresentou mais de 400 projetos voltados às áreas da ciência e cultura, desenvolvidos por estudantes de 142 escolas, espalhadas por 97 municípios.
Entre eles estava um projeto inovador e sustentável que utiliza a borra do café como matéria-prima alternativa ao plástico e ao isopor para produzir embalagens descartáveis e utensílios domésticos (bacias, vasos, bandejas, etc).
Intitulado “Desenvolvimento de biocompósitos derivado da borra de café”, o projeto foi criado pelos estudantes do curso Técnico em Agropecuária do Centro Territorial de Educação Profissional Almir Teixeira Santos, que fica na cidade de Formosa do Rio Preto, localizada na região Oeste da Bahia.
O grupo é formado por: Alessandra dos Santos Conceição, Arthur Oliveira dos Santos, David Matos da Silva, Gabriel Menezes Rocha e Sharlene Rodrigues Pereira Santos, com orientação da professora Enivalda Araújo.
A orientadora conta que a escola é de porte especial e possui uma infraestura excelente, com 32 salas de aula, cinco laboratórios, teatro, quadras esportivas, restaurante estudantil, piscina semiolímpica, dentre outros espaços para atender em torno de 1.500 alunos.
Ainda segundo ela, a escolha do projeto para participar da etapa estadual do Encontro Estudantil, que acontecerá em dezembro, em Salvador, foi um marco na trajetória da ciência e da pesquisa escolar no município de Formosa do Rio Preto, distante cerca de 750 quilômetros da capital baiana.
“Os jovens envolvidos na pesquisa acreditaram em seu trabalho e mostraram que tudo é possível quando a educação é colocada como pilar do conhecimento”, relata.
A docente explica que muitos desses estudantes, até então, nunca haviam conhecido outra cidade além da sua própria. “A pesquisa científica lhes abriu portas para novos horizontes, uma delas foi conhecer a capital do nosso estado”.
Segundo a professora Enivalda, a ideia de transformar a borra de café em biocompósitos surgiu de discussões do grupo de professores que são orientadores de projetos científicos, sobre temáticas adequadas ao que pedia o edital do Encontro Estudantil.
“Diagnosticamos problemas dentro da comunidade que poderiam ser solucionados com a utilização de materiais que favoreçam a economia circular. Nessa perspectiva, percebemos a borra de café como sendo adequada para o desenvolvimento de um projeto inovador, sustentável e desafiador”.
A orientadora dos estudantes explica que durante as pesquisas os integrantes do grupo encontraram poucas fontes que pudessem auxiliá-los. Mas que, apesar dessa limitação, conseguiram avançar a partir dos estudos realizados e seguiram para as etapas seguintes do trabalho.
“Na fase de experimentação, muitos testes apresentaram erros e não resultaram em produtos satisfatórios. Diante disso, os alunos refizeram os experimentos, explorando novas formulações e diferentes processos de secagem até chegaram a um resultado próximo ao esperado”.
Ela destaca que, como orientadora, sua missão foi incentivá-los, oferecendo orientações, sugestões e, principalmente, levantar questões investigativas para que pudessem refletir, analisar os resultados e propor alternativas.
A professora informa ainda que a proposta inicial do projeto consistia em desenvolver um biocompósito capaz de substituir o plástico convencional utilizado no plantio de mudas nas aulas práticas das disciplinas técnicas da própria escola.
“Entretanto, nos primeiros resultados observamos que os protótipos, embora apresentassem certa rigidez, se mostraram excessivamente permeáveis, o que inviabilizou sua aplicação direta nesse contexto”.
Diante disso, os alunos identificaram uma nova possibilidade de aplicação: a utilização dos biocompósitos na produção de utensílios de embalagem, como alternativa sustentável às bandejas de isopor tradicionalmente empregadas no armazenamento e distribuição de pequenas porções de alimentos.
Segundo ela, o processo químico para desenvolver as embalagens não deixa nenhum tipo de odor ou gosto do café, no caso da produção de recipentes para guardar alimentos, por exemplo, esse detalhe é muito importante.
Outra possibilidade é que os biocompósitos produzidos possam substituir os sacos plásticos no plantio de mudas na horta escola, por exemplo.
No entanto, a professora destaca que iniciativa pode ir além do ambiente escolar. “No contexto de Formosa do Rio Preto, tais biocompósitos poderiam ser incorporados pela agricultura familiar, tanto para a produção de embalagens ecológicas utilizadas na distribuição de seus produtos, quanto como oportunidade de geração de renda e empreendedorismo sustentável”.
A docente explica que o desenvolvimento do projeto contribuiu para promover a conscientização ambiental ao possibilitar que os estudantes refletissem sobre o impacto do consumo excessivo de plásticos convencionais e sobre a necessidade de alternativas sustentáveis.
“A utilização da borra de café, um resíduo de fácil acesso e frequentemente descartado de forma inadequada, evidenciou o potencial de reaproveitamento de materiais cotidianos, despertando nos alunos uma postura crítica e responsável frente às questões ambientais locais e globais”.
Enivalda explica que o projeto também fortaleceu o incentivo à inovação científica na escola pública ao estimular práticas investigativas baseadas na experimentação e na resolução de problemas reais.
“A busca por soluções alternativas, a reformulação de metodologias diante de insucessos e a elaboração de protótipos contribuíram para o desenvolvimento de competências como pensamento crítico, criatividade e resiliência”.
Agora, o grupo segue na etapa de experimentação, com foco no aperfeiçoamento da formulação de um bioplástico impermeável à base de borra de café. Os esforços concentram-se, sobretudo, no aprimoramento dos processos de secagem e de modelagem, de modo a viabilizar a produção de materiais mais resistentes e adequados ao uso cotidiano.
“Vamos buscar a possibilidade de estabelecer parcerias com instituições de ensino superior, órgãos de pesquisa e empresas do setor produtivo, tanto para o desenvolvimento tecnológico quanto para a inserção do produto em contextos de maior escala, favorecendo sua difusão como alternativa sustentável ao plástico convencional”.
Sobre a participação na etapa territorial do Encontro Estudantil, em dezembro, a orientadora diz que a experiência está marcada por um profundo sentimento de gratidão, sobretudo pela oportunidade de incentivar a iniciação científica entre estudantes da escola pública do interior da Bahia.
“É extremamente significativo ver os alunos assumindo o protagonismo no desenvolvimento de projetos que unem ciência, criatividade e compromisso social. Para eles, a participação em um evento dessa dimensão representa motivo de entusiasmo e realização”.
A professora afirma que a classificação do projeto para a próxima etapa é vista como uma oportunidade de ampliar conhecimentos, trocar experiências com outros grupos e dar visibilidade a iniciativas que integram ciência, inovação e sustentabilidade em escolas públicas.
Para encerrar, Enivalda reconhece o trabalho e parabeniza a Rede Estadual de Educação pela promoção e incentivo a programas que valorizam a ciência, a inovação, a tecnologia e a sustentabilidade.
“Temos que reconhecer as inciativas que estilumam o papel transformador da escola pública na formação de cidadãos críticos e engajados”.