DA LAVOURA À XÍCARA: CONHEÇA O TRABALHO DE URIAS SANTOS DE ARAÚJO NA PRODUAÇÃO DE CAFÉ
O café, uma das maiores riquezas agrícolas do Brasil, depende fortemente do trabalho dos profissionais da Química em todas as etapas de sua cadeia produtiva.
Desde o cultivo até a xícara, o químico atua garantindo qualidade, segurança e valor agregado ao produto.
No controle de solo e água, por exemplo, sua análise orienta o uso correto de fertilizantes e defensivos.
Entre outras atividades, os químicos contribuem para o desenvolvimento de novos métodos de torrefação e embalagens sustentáveis, unindo ciência, tecnologia e inovação.
Assim, sua atuação é indispensável para que o café brasileiro mantenha o padrão de excelência reconhecido mundialmente.
O entrevistado da sessão “Protagonistas da Química” de outubro, é o biotecnoólogo Urias Santos de Araújo, natural da cidade de Piatã, na Chapada Diamantina, que é registrado no CRQ7.
Segundo Urias, trabalhar com café sempre foi um sonho, que pode ser realizado após concluir o curso no Instituto Multidisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia IMS/UFBA), em Vitória da Conquista.
Após atuar por um período na área de pesquisa e desenvolvimento em uma empresa de bioprodutos, ele percebeu que poderia aplicar meu conhecimento científico na produção de café de propriedade de sua família.
“O café sempre fez parte da minha vida. Cresci vendo meu pai, conhecido como Tuna, se dedicando à produção de café com zelo e paixão. Via seu cuidado desde o plantio até o produto final que chegava servido na xícara”, relata.
Além de todo cuidado com a produção dos grãos, ele também é empreendedor e cuida da marca Cotidiano Cafés Especiais.
Acompanhe a entrevista complete abaixo:
1. Por que optou por trabalhar com química? Teve a influência de algum profissional da área?
Durante minha formação, sob orientação do Professor Dr. Bruno Moreira, do setor de Química Orgânica, participei de projetos de pesquisa voltados à química dos produtos naturais, onde tive a oportunidade de realizar diversos tipos de analises, como em HPLC (Cromatografia Líquida de Alta Eficiência) para a descoberta de substâncias bioativas em espécies vegetais. Foi nessa fase que percebi como os princípios químicos e biotecnológicos se conectam e podem gerar valor quando aplicados a produtos da nossa realidade, como o café. Essa experiência despertou meu desejo de unir minha profissão com a paixão pelo café, buscando agregar ciência, inovação e identidade regional ao produto. Foi assim que nasceu o desejo de seguir por esse caminho.
2. Como o trabalho com a produção de café surgiu para você?
Como mencionei anteriormente, trabalhar com café sempre foi um sonho antigo. Após atuar por um período na área de Pesquisa e Desenvolvimento em uma empresa de bioprodutos, percebi que poderia aplicar meu conhecimento científico de forma mais próxima às minhas origens. Foi então que decidi me dedicar à cafeicultura, unindo minha formação à história da minha família.
O café sempre fez parte da minha vida. Cresci acompanhando meu pai, conhecido como Tuna, se dedicar à produção com zelo e paixão, desde o plantio até o café servido na xícara. Em Piatã, uma das principais regiões produtoras de cafés especiais do Brasil, aprendi desde cedo a valorizar o cuidado e o amor que os produtores locais depositam em cada etapa do cultivo.
Com o tempo, compreendi que o conhecimento científico poderia se somar ao saber tradicional para elevar ainda mais a qualidade do produto. Durante minha formação em Biotecnologia, identifiquei o grande potencial de aplicar conceitos de química, fermentação e bioprocessos para aprimorar o processamento e as características sensoriais dos grãos.
Desde então, venho me aperfeiçoando e buscando especialização nessa área, com o propósito de que meu trabalho represente a união entre ciência e tradição, agregando valor, inovação e sustentabilidade à cafeicultura de Piatã e da Chapada Diamantina.
3. Você trabalha para uma empresa ou cooperativa?
Atuo na propriedade da minha familia e de forma autônoma prestando consultoria e apoio técnico a produtores e pequenas torrefações. Com foco no controle de qualidade, nos processos fermentativos (pesquisas) e na adequação regulatória junto aos órgãos fiscalizadores, garantindo que o café produzido esteja em plena conformidade com os padrões da legislação brasileira.
4. Qual a média de produção na empresa onde trabalha?
Como trabalho de forma independente, não há uma produção específica sob minha responsabilidade.
De modo geral, a produção média do município de Piatã gira em torno de 15 mil toneladas por safra, destacando-se pelos microlotes de cafés especiais reconhecidos pela alta qualidade e por prêmios nacionais.
5. Como é a sua atuação profissional, ou seja, por quais etapas da produção você é responsável?
Minha atuação é ampla e integrada podendo ser Responsável Técnico ou consultor, unindo os conhecimentos da Química e da Biotecnologia aplicados à cadeia produtiva do café. Acompanho desde as etapas de pré e pós-colheita até o controle de qualidade final, tanto do café verde quanto do café torrado, garantindo que cada fase do processo mantenha os padrões exigidos de segurança e excelência.
Entre as principais atividades que desempenho, destaco:
• A atuação no cumprimento das exigências regulatórias junto aos órgãos fiscalizadores, assegurando que o produto esteja em conformidade com a legislação brasileira;
• O desenvolvimento de manuais de Boas Práticas de Fabricação (BPF) e Procedimentos Operacionais Padrão (POPs), que estruturam e padronizam as rotinas produtivas;
• A condução de fermentações controlada (a fermentação vem ganhando força nos últimos anos no mundo dos cafés especiais), com o objetivo de aprimorar o perfil sensorial do café e evitar processos indesejados que possam comprometer a qualidade da bebida;
• O monitoramento de variáveis físico-químicas, essenciais para o controle de qualidade e para a conformidade técnica do produto;
• A padronização e classificação dos lotes, assegurando consistência, rastreabilidade e valorização do produto final;
• E a avaliação da qualidade da água e das condições de armazenamento, que influenciam diretamente na preservação e na estabilidade do café.
Além de assegurar que o café produzido esteja em plena conformidade com os padrões legais e de qualidade, busco promover inovação e sustentabilidade, incentivando o uso racional de insumos e o aproveitamento de subprodutos do café.
6. De que forma o profissional químico na área de café atua para garantir que matérias-primas ou o produto pronto atendam aos padrões de qualidade exigidos atualmente?
O profissional químico tem papel fundamental na garantia da qualidade e segurança em toda a cadeia produtiva do café. Sua atuação envolve desde a análise das matérias-primas até o produto final, utilizando análises físico-químicas e sensoriais que asseguram pureza, composição e estabilidade. Além disso, ele atua no controle de qualidade dos processos, prevenindo contaminações e assegurando conformidade com as normas e legislações vigentes. O químico também responde pela adequação regulatória junto aos órgãos fiscalizadores, reforçando a credibilidade e a rastreabilidade do produto.
Garantindo assim o padrão de excelência exigido pelo mercado de cafés especiais.
7. Como a análise química contribui para a prevenção de contaminações em processos produtivos?
A análise química é essencial para prevenir contaminações e garantir a segurança em todas as etapas do processamento do café. Por meio de testes físico-químicos, o químico identifica desvios de qualidade, resíduos indesejáveis, metais pesados e micotoxinas, permitindo ações preventivas imediatas. Além disso, orienta sobre boas práticas de fabricação e higiene, controle de equipamentos e adequação de processos fermentativos. Com a biotecnologia, é possível monitorar as fermentações, controlando microrganismos desejáveis e indesejaveis reduzindo riscos. Assim, a análise química, aliada à biotecnologia, garante segurança, rastreabilidade e confiabilidade dos cafés.
8. Quais ferramentas e técnicas o químico utiliza para assegurar que os produtos finais estejam de acordo com normas regulatórias e sanitárias?
O profissional pode utilizar de um conjunto de ferramentas analíticas, laboratoriais e regulatórias para garantir que o café atenda aos padrões de qualidade, segurança e conformidade legal exigidos pela legislação brasileira e por normas internacionais.
Entre as principais ferramentas estão as análises físico-químicas e microbiológicas, realizadas em diferentes etapas do processo produtivo.
Essas análises permitem avaliar parâmetros como umidade, acidez, pH, condutividade, teor de cafeína, compostos fenólicos e atividade de água, que são fundamentais para determinar a qualidade e estabilidade do produto de interesse.
O uso de técnicas instrumentais, como HPLC, espectrofotometria e análises sensoriais controladas, possibilita identificar e quantificar substâncias relevantes, garantindo que o produto final esteja dentro dos limites estabelecidos pelas normas.
Além das análises laboratoriais, o químico atua diretamente no controle de processos e na adequação regulatória junto aos órgãos fiscalizadores, assegurando o cumprimento de legislações como as da ANVISA, MAPA, INMETRO e ABIC.
Essa atuação técnica assegura rastreabilidade, segurança e credibilidade, tanto para o mercado interno quanto para exportação.
Por fim, a integração entre química e biotecnologia permite o uso de métodos modernos de monitoramento microbiológico e controle de fermentação, fortalecendo a produção de cafés sustentáveis, seguros e de alto valor agregado.
9. Qual a importância da atuação do químico no desenvolvimento de novos produtos mais eficientes e sustentáveis?
Acredito que o papel do químico é essencial para promover a inovação e a sustentabilidade dentro da cafeicultura.
A partir do domínio dos processos químicos e biotecnológicos, é possível desenvolver produtos e métodos mais eficientes, seguros e ambientalmente responsáveis, agregando valor ao café e fortalecendo toda a cadeia produtiva.
Na prática, o profissional atua otimizando etapas como a fermentação e o processamento dos grãos, buscando melhorar o desempenho microbiológico e o perfil sensorial do café.
Esses avanços permitem reduzir o uso de insumos e energia, além de potencializar as reações naturais que realçam aroma, sabor e corpo, fatores fundamentais nos cafés especiais.
Outro ponto importante é o aproveitamento dos subprodutos do café, como cascas e mucilagem, que podem ser transformados em bioprodutos, adubos orgânicos ou fontes de compostos bioativos.
Essa visão integrada entre química, biotecnologia e sustentabilidade ajuda a transformar o que antes era resíduo em oportunidade, promovendo uma economia mais circular e consciente.
Além disso, o químico também contribui substituindo reagentes e métodos agressivos por alternativas mais seguras, e monitorando efluentes e emissões, sempre com foco na responsabilidade ambiental e na segurança dos processos.
Em resumo, o químico atua como um elo entre a ciência e a sustentabilidade, trazendo soluções inovadoras que garantem qualidade, eficiência e respeito ao meio ambiente, princípios indispensáveis para o futuro da cafeicultura.
10. Em que medida o conhecimento químico auxilia na implementação de boas práticas na produção de café?
Compreender os princípios químicos e biotecnológicos envolvidos nas reações do café no pós-colheita e na sua torra, permite controlar variáveis críticas e fatores determinantes para a qualidade e segurança do produto final.
Esse controle técnico ajuda a evitar contaminações, perdas de aroma e sabor, mantendo a qualidade do produto, além de garantir maior padronização entre os lotes.
Na prática, o químico atua orientando os produtores sobre o uso correto de insumos, padronização de processos, o monitoramento da qualidade da água e a higienização de equipamentos, etapas fundamentais para atender às boas práticas de fabricação (BPF) e às normas regulatórias.
Quando associado à biotecnologia, esse conhecimento se torna ainda mais poderoso: é possível conduzir fermentações controladas, otimizando o trabalho de microrganismos benéficos que aprimoram o perfil sensorial do café e reduzem riscos de contaminação.
Além disso, o químico contribui para a criação de protocolos de rastreabilidade e controle de processos, assegurando que cada etapa do processamento esteja devidamente registrada e em conformidade com a legislação brasileira.
Em resumo, o conhecimento químico aplicado ao café garante segurança, consistência e qualidade, fortalecendo a confiança do produtor e entregando ao consumidor um produto mais puro, estável e de origem transparente.
11. Como o profissional químico pode contribuir para garantir que o café produzido na Bahia apresente qualidade para disputar o mercado nacional e internacional?
Podemos ter um papel estratégico na consolidação da qualidade e identidade dos cafés baianos, especialmente os produzidos na Chapada Diamantina, que já são reconhecidos nacional e internacionalmente pela sua qualidade e perfil sensorial único. Através da aplicação de técnicas analíticas, biotecnológicas e de controle de processos, o químico assegura que o produto final (Café verde ou Torrado) atenda aos padrões de qualidade, segurança e rastreabilidade exigidos pelos mercados mais exigentes.
Além da parte técnica, temos a importância da orientação dos produtores para a adequação às normas regulatórias e certificações de qualidade, o que aumenta a credibilidade e a competitividade dos cafés baianos nos mercados nacional e internacional.
Outro ponto importante é na inovação e sustentabilidade, desenvolvendo métodos mais limpos e eficientes, como reduzindo o uso de insumos e promover reaproveitamento de subprodutos, consolidando a imagem da Bahia como referência em cafés especiais.
Em síntese, o químico atua como um elo entre a ciência e o produtor, transformando conhecimento técnico em resultados práticos.
Esse trabalho conjunto é o que garante que o café baiano continue se destacando, abrindo portas para grandes e pequenos produtores, competindo de forma justa e consistente no cenário nacional e internacional do café.
12. Qual o papel do químico na integração entre inovação tecnológica e qualidade, visando a competitividade da indústria no mercado nacional e internacional?
Como profissional da área, acredito que temos um papel central na integração entre inovação tecnológica e qualidade, transformando conhecimento científico em soluções práticas para o setor cafeeiro.
Na cafeicultura moderna, o desafio é unir tradição, tecnologia e qualidade sem perder a essência do produto. Nesse contexto, o químico contribui desenvolvendo novas metodologias de processamento, fermentações controladas, análises avançadas de qualidade e protocolos de rastreabilidade, que asseguram consistência e excelência em cada lote produzido que vai parar em nossa xicara.
A partir da aplicação de ferramentas analíticas e biotecnológicas, somos capazes de identificar e controlar variáveis que podem influenciam diretamente o perfil sensorial, a segurança e a estabilidade do café.
Essas informações técnicas permitem ajustar processos, reduzir desperdícios e aumentar o rendimento produtivo que pode ser aplicada em todas as fases de produção do café, fatores fundamentais para a competitividade no mercado nacional e internacional. Além disso, a adequação regulatória e na implementação de práticas sustentáveis, garante que os produtos atendam aos requisitos de qualidade, segurança e conformidade ambiental.
Essa combinação de ciência, inovação e responsabilidade agrega valor, confiança e diferenciação às marcas que representam o café baiano.
Em síntese, o químico é o elo entre a pesquisa e o mercado, entre o laboratório e o campo. É o profissional que, ao lado do produtor, transforma o conhecimento técnico em inovação, qualidade e competitividade, fortalecendo o posicionamento da Bahia e a Chapada Diamantina como referência em cafés especiais de excelência.